Ao observarmos o contexto em que o sistema educacional se insere, imediatamente remetemo-nos ao seu relacionamento direto com a sociedade circundante. Neste sentido, a própria escola é a instituição por excelência onde as relações sociais devem ser estabelecidas em beneficio coletivo; ou seja, é através da educação que a sociedade objetiva seu sincronismo de variadas maneiras.
A História, enquanto disciplina que ocupa-se em transmitir o conhecimento histórico, a despeito de seus conteúdos específicos e ditados por consensos curriculares, é resultado do esforço dispensado pelo professor para a otimização da relação ensino/aprendizagem. No que concerne ao papel do docente em História, e deixando de lado inúmeras outras abordagens ao seu trabalho, importa-nos destacar alguns desafios da socialização da contemporaneidade.
- Individualismo;
- Competitividade;
- Heterogeneidade;
- 'Sociedade hostil'.
Primeiramente, levando em consideração a aceleração do processo de desenvolvimento capitalista nas últimas décadas - e notadamente no Brasil -, faz-de necessário um ensino de História que compreenda a competitividade e o individualismo como expressões de época, e não como tendências absolutas. Ou seja, é preciso entender historicamente a solidariedade e a coletividade como fundamento do sincronismo social.¹
O aspecto da composição heterogênea, tanto do ambiente escolar como da sociedade em si, constitui outro notável desafio ao professor de História na atualidade. Haja vista os efeitos da globalização, migrações, trocas culturais, questões de gênero, classe social, etc., o ensino requer uma postura compreensiva e mediadora do educador com relação aos diversos alunos, funcionando como um regulador da diversidade que compõe o ambiente escolar. Então, encarar a pluralidade e a heterogeneidade escolar como o reflexo da sociedade, é, pois, entender que a própria dinâmica do ensino sob esses aspectos contribui para uma boa (con)vivência no nível amplo da sociedade.
Por fim, e não menos importante, destaco a perspectiva de uma sociedade hostil que se apresenta ao aluno. Ao professor de história cabe desmistificar a [falsa] fronteira entre a real social e o ideal escolar, afinal, a sociedade e ambiente escolar estão intrinsecamente conectados e interdependentes. Em outras palavras, torna-se preciso que o educador do campo da História aponte de forma realista a configuração do sistema social de então, de modo que o aluno tenha conhecimento/suporte para problematizar as situações da vida buscando sua melhoria. A sociedade, aparentemente hostil, pode, através da crítica gerada pela História, ser o cenário das possibilidades e da realização dos projetos pessoais e do bem comum. Assim, o papel do professor de História é fundamental para converter e guiar os múltiplos interesses ao ideal primaz do ensino -e da sociedade² -, que é, de fato, a melhoria constante da realidade.
#Referências:
¹ Refiro-me ao processo de insustentabilidade social gerado pelo individualismo. Vide o exemplo da sociedade da Suécia em: ORFALI, Kristina. Um modelo de transparência: a sociedade sueca. In: PROST, Antoine & VICENT, Gerard. História da Vida Privada: da Primeira Guerra aos dias atuais. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. pp. 536 - 566.
² Recorro a abordagem progressista da História, contida na filosofia de Immanuel Kant (1724 - 1804), para apontar o interesse pelo progresso coletivo enquanto manifestação da humanidade. Podemos constatar que sua teoria identifica a razão como o 'fio condutor' da História, e enfim, podemos concluir que a história universal é a história natural do progresso da razão. Com base em: KANT, Immanuel. Ideia de uma História universal de um ponto de vista cosmopolita. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986. p. 1- CANDAU, V. M. Construir ecossistemas educativos: reinventar a escola. In: CANDAU, V.M. (org.). Reinventar a escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
- KENSKI, Vani Moreira. O papel do professor na sociedade digital. In: CASTRO, A. D. de; CARVALHO, A. M. P. de (orgs). Ensinar a ensinar: Didática para a escola fundamental e média. São Paulo: Thomson, 2001.
Estou gostando da proposta do Blog, Gil!
ResponderExcluirSempre que puder, passarei aqui para ver qual a discussão que está sendo feita, e quem sabe trocar algumas ideias! É bom ter um local onde essas questões possam ser discutidas, além do espaço físico de uma sala de aula.
Beijos.
Dayanne Schetz.