Em meio aos estudos que ora desenvolvo com relação as concepções de currículo através do tempo, faz-se necessário uma 'auto-análise' acerca de minha própria experiência escolar neste sentido.
Na pequena cidade de Anita Garibaldi, na Serra Catarinense, entre os anos de 1997 e 2008 fiz meus estudos na Escola de Educação Básica Padre Antônio Vieira, primeiramente conduzida por religiosas e logo após assumida pelo Governo do Estado. Interessa-me apontar aqui que, a despeito e inúmeras limitações, avalio positivamente o ensino desta instituição, bem como seu caráter humanizador.
Com relação a minha percepção, a posteriori, acerca do currículo ao qual estive submetido em minha formação escolar, observo um viés tradicional e, por vezes crítico, a nortear a prática do conteúdo/ensino. Noto que os conteúdos continham - e podem ainda conter - percepções ultrapassadas e por vezes combatidas por uma nova visão crítica e pós-crítica, principalmente no tocante às ciências humanas. Mesmo possuindo materiais adaptados aos novos apontamentos 'científicos', diversos assuntos eram tratados de maneira acríticas e até baseados no senso comum. Senso comum este permeado pelo imaginário coletivo de uma sociedade com padrões conservadores, típicos de uma cidade de pequeno porte.
Porém, na prática do ensino, no fazer criativo, percebo que muitas vezes as teorias críticas guiavam as ações da Escola. Nem sempre as aulas se davam de forma tradicional/hierarquizada, e havia inúmeros momentos de dinamismo e mesmo liberdade aos alunos. Abaixo, a título de ilustração, segue uma fotografia de uma situação escolar onde nós, os alunos, produzimos de foram dinâmica uma percepção sobre a Natureza bem como sua preservação.
Apresentação teatral acerca da preservação da fauna e da flora
Alunos do 3º Ano do Ensino Médio
Salão Nobre da Escola de Educação Básica Padre Antônio Vieira
Anita Garibaldi - SC - 2008
Percebo então uma permanência tradicional no ensino, uso da crítica quando conveniente e resistência aos modelos pós-críticos atuais em minha escolarização. O fato justifica-se pelas questões étnica, multiculturalista, pós-colonialista, e de gênero, entre outras. Por ser uma terra de colonização italiana, noto - e mesmo já notava - a exclusão imediata dos demais elementos que compõem a população escolar; por estar e escola imersa em uma cultura, ela cumpria um papel legitimador da mesma bem como propagador, não favorecendo 'opções' corretas fora deste padrão; por ser o ensino brasileiro herdeiro de correntes educacionais exteriores, não houve em minha escolarização o intento de otimizar uma 'produção própria', ou, pelo contrário: o padrão europeu era de fato o desejado; por estar a escola permeada dos valores de uma cidade pequena, o preconceito aos 'desvios' do padrão biológico de sexo eram notados negativamente, e reprimidos de modo geral. Mas, e fazendo um contraponto ao sistema tradicional de ensino que observo em minha escolarização, destaco que o Ensino Médio no qual estudei favoreceu positivamente em incontáveis sentidos a minha vivência pós-escola. Afinal, o fato de uma Escola não estar atrelada a simplificação do ensino para o vestibular contribuiu para uma percepção mais humanitária aos conteúdos e um aprendizado espontâneo para uma real utilidade; ensino humanitário este tão necessário em muitas escolas 'modelos', que sob uma teoria dita 'super-hiper-mega moderna e criticamente crítica', produzem e reproduzem alienados... alunos estes que, sendo carros em uma linha de produção, com certeza não estariam nem na fábrica de Henry Ford.